Wednesday, July 27, 2005

Apontamento

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.

Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?

Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.

Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.

Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.A minha obra?
A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-no especialmente, pois não sabem por que ficou ali.

Friday, July 22, 2005

Primeira escolha

Muitas vezes estamos agarrados a algo que não é, nem nunca seria a nossa primeira escolha, mas por todas as circunstâncias da vida, acabamos por nos afundar nela, seja numa relação profissional ou sentimental, como quem se afunda em areias movediças. E quanto mais tempo deixamos escapar, mais fundo nós chegamos, até que olhamos para trás e não conseguimos entender porquê o nosso mal estar. Na verdade nunca deveríamos ter aceite a segunda escolha, pois a força do tempo servirá sempre como argumento para nunca seguirmos exactamente o que queríamos. Acabamos então por cair num ciclo vicioso, eu não quero isto mas não posso desperdiçar todo o tempo que estive a construi-lo, no fundo quero esse tempo de volta mas ao mesmo tempo tenho pena do que irei perder.
E é assim é assim que eu aceito o facto de as pessoas demonstrarem a sua satisfação por algo, quando na verdade elas próprias apenas tentam acreditar nisso.
Portanto eu afirmo, nunca mas nunca mais terei ou gastarei tempo com uma segunda escolha, seja profissional ou sentimental. Pois no fim posso correr o risco de não conseguir respirar e nem sequer ter a hipótese de vir à tona, já que poderei estar enterrado nos meus medos e na minha consideração pelo que criei mesmo sem vontade de continuar.

Monday, July 11, 2005

Velocidade de Escape

Tempo de mudança, tempo de respirar outro ar, fazer coisas novas. Viver (como me ensinaram) o presente. Nós temos saudades do nosso futuro, queremos chegar lá rápido e depois esquecemo-nos do presente e vivemos amargurados a pensar naquilo que queremos ser, naquilo que queremos alcançar e construir. Mas melhor do que aquilo que queremos ser, é gostarmos do que somos e fazemos, só aí poderemos deixar o futuro para quando ele acontecer.
Não digas que queres conhecer coisas diferentes, se queres muda-as já.
Se não gostas do que és muda, mas muda a sério não faças só uma operação de cosmética.
Pega na tua mala e baza, foge evade-te para onde queres. Ouviste?
Não fiques aqui. Não vale a pena, aqui vais estagnar, aqui vais te arrastar. Lá fora não. Lá fora vais conhecer montes de situações novas.
Por favor, não fiques cá, é que se ficas cá os outros pensam que afinal queres cá ficar, e então vão exigir de ti o entusiasmo de quem vive o que quer e é quem quer.
Não te enganes a ti próprio, pois assim acabas sempre por enganar os outros. Se te mostrares sempre inconformado com a vida e andares sempre em roda viva, aí não terás tempo dos outros te acusarem de teres criado raizes quando afinal nem querias era assentar.
Pensa nisso, antes que o teu centro gravitacional esteja tão atraído pelos corpos à tua volta, que acabes por perder qualquer hipótese de encontrares a tua velocidade de escape.

Tuesday, July 05, 2005

Desmistificar

Quem visita este blog, lê textos confusos que têm sempre o mesmo ponto central. Talvez eu devesse pedir perdão à minha fonte de inspiração pelo facto de me aproveitar dela para escrever o que escrevo. Nem eu sei porque torno isto público.
Quem visita esta página lê textos que definem o meu estado de espírito, as minhas dúvidas e os meus sentimentos.
Quem lê sabe que só duvido de uma coisa que é clara como água, mas que eu não quero ver. Quem lê compreende que o meu espirito está trastornado mas resignado. Quem lê sente que os meus sentimentos ainda são muito fortes.
Se calhar é isso, esta é uma maneira de lutar apesar da minha resignação, esta é uma maneira de eu mostrar que as minhas dúvidas são claras, e esta é, sobretudo, uma maneira de eu mostrar que tudo o que senti e sinto, é, foi e será muito forte, por muito que a erosão do tempo atenue esta força.
Pois é. Este amor dá-me força, dá-me vontade de mudar, dá-me vontade de lutar, dá-me vontade de me transcender, dá-me vontade de ser maior e melhor e sobretudo dá-me vontade de amar.
Eu amo porque sou crente num amor que é só de Um e sempre será, ninguém poderá interferir, porque foi criado por Um. Depois de tanto tempo não há razão para este amor continuar a ser platónico, eu quero te fazer descer à terra mas coloco-te sempre no céu. Eu quero que sejas humana, mas tu és para mim divinal. Eu quero que sejas o mesmo que as outras pessoas, mas tu és a minha Musa e quanto mais inantingível eu achar que és, mais vontade de te atingir eu tenho. Mas a verdade é que já me mostraste que és bastante atingível o problema é que por alguma razão para mim não o pareces. Não te consigo desmistificar